Participantes

Afonso Tostes

Brasil

(1965, Belo Horizonte / Rio de Janeiro, Brasil)

Afonso Tostes tem feito um conjunto de importantes inflexões críticas no campo da escultura, não tanto com relação aos materiais (a madeira continua sendo o elemento central da sua pesquisa), mas no jogo linguístico e derivativo que vem explorando, e que adensa novos caminhos poéticos e políticos para o seu trabalho. Árvore e Contingente resultam de uma vontade de extrair novos significados e imaginários das madeiras usadas e gastas que coleta, chamando a si o sentido mágico e demiúrgico do artista.
Em Árvore, ele explora a "parte" e o "todo", a "unidade" e o "conjunto" por meio de uma floresta espectral, densa e impenetrável, toda feita de galhos em suspensão. Vista ao longe, a instalação assemelha-se a um emaranhado de signos indistintos, uma massa densa que se ergue diante de nós, mas que, quando nos aproximamos, surge como filigrana delicada que revela cada entalhe e cada enxerto. É um ciclo do olhar, uma rotação dos sentidos, um vai e vem incessante que nos reenvia da natureza à cultura.
Madeira-osso, Madeira-mão, Madeira-pão-nosso-de-cada-dia, Contingente expõe, sob a forma de um mostruário de parede, um conjunto de ferramentas de trabalho usadas, anônimas, coletadas pelo artista. Prolongamento da mão (e do pensamento), esses instrumentos em desuso pelo trabalho humano são aqui ossificados para entrarem na "arte", ou seja, tornam-se, como o título indica, parte separada de um todo. Podemos pensar em Contingente como uma espécie de memento, evocador da divisão entre artista e artesão, entre arte e trabalho, que Afonso Tostes supera por meio da síntese no objeto.

Afonso Tostes has made a set of important critical inflections in the field of sculpture, not so much in regard to the materials (wood continues to be a central element of his research), but in the linguistic and derivative game he has been exploring, and which concentrates new poetic and political paths for his work. Árvore [Tree] and Contingente [Contingent] spring from a desire to extract new meanings and imaginaries from the used and worn pieces of wood he collects, thereby imbuing them with a demiurgic and magical sense.
In Árvore, he explores the “part” and the “whole,” the “unit” and the “set” by means of a thick, impenetrable spectral forest, consisting entirely of suspended branches. Seen from a distance, the installation resembles a tangle of indistinct signs, a dense mass that looms before us; but as we get nearer, it takes on the look of a delicate filigree which reveals each groove and insertion. It is a cycle of the gaze, a rotation of the senses, a ceaseless back-and-forth movement that sends us alternately from nature to culture.
Bone-wood, Hand-wood, Our-daily-bread-wood, Contingente presents, in the form of a wall display, a set of used, anonymous work tools, collected by the artist. A prolongation of the hand (and of thought), these instruments no longer used in human work are here turned into bone to enter “art,” that is, as the title indicates, they become a part separated from a whole. We can think about Contingente as a sort of memento, evoking the division between artist and craftsman, between art and work, which Afonso Tostes surpasses by means of synthesis in the object.

Marta Mestre

Obras do artista