Participantes

Ana Tomimori

Brasil

(1980, Atibaia / São Paulo, Brasil)

Um hit com o qual muitas crianças e adolescentes na década de 1990 conviveram é retomado por Ana Tomimori em uma performance para a câmera, que a leva a encarnar sete paquitas da rainha dos baixinhos. A indumentária oficial foi produzida para a performance, que retoma em seu título o endereço para onde as candidatas a conviver neste mundo encantado enviavam as suas cartas. Na canção, elas prometem pão, ao mesmo tempo em que sugerem o convívio pela via da televisão (“bom estar contigo na televisão”). Intercambiados pelas mídias de massa, os pães prometidos aos baixinhos eram como os brioches originários de um mundo de alucinação, a partir do qual Maria Antonieta teria prometido alimentar o povo. Pois, quando soube que o seu reinado não tinha condições de lhes oferecer sequer pães – anedota do século XVIII –, a rainha ofertou a eles uma preparação ainda mais sofisticada. Alusão direta – pela via do anacronismo que alimenta a arte – ao mundo encantado feito de “lua de cristal”, onde se oferecia o pão da alienação comido pelas ondas transmitidas no reinado da tv.
Com carisma e beleza estereotipados, e coreografias acentuadas por uma sensualidade transformada em entretenimento para crianças, as paquitas produziam vícios no modo como as crianças conviviam com a diferença. É que o reinado caucasiano sequer percebia as diferenças que definem o lugar que sedia o tão aclamado “mundo cheio de alegria.” Uma raça puritana que definia os traços do sujeito esbelto não podia se abrir para a diferença, o que a artista, jovem nipônica, percebeu apenas depois que as cartas enviadas ao “mundo cheio de alegria” nunca foram reciprocadas, conforme o prometido.

A hit TV show among children and adolescents during the 1990s is revisited by Ana Tomimori in a performance for the camera, which leads her to embody seven of the paquitas [supporting dancers] who performed on Xuxa’s television program. The official costume was produced for the performance, whose title refers to the address to which the candidates wishing to enter this enchanted world sent their letters. In the song, they promise bread while also suggesting a shared experience through television (“it’s good to be with you on television”). Interchanged by the mass media, the bread promised to Xuxa’s young fans was like the cake straight out of a delusionary world, suggested by Maria Antoinette as food for the people. Therefore, when Xuxa realized that her “kingdom” did not have the conditions to offer them any bread – an anecdote from the 18th century – the television queen offered them an even more sophisticated preparation. This is an indirect allusion – by means of the anachronism that feeds art – to the enchanted world made of “a crystal moon,” where the sustenance offered was the bread of alienation eaten by the waves transmitted in the kingdom of TV.
With stereotyped charisma and beauty, coupled with choreographies accented by a sensuality transformed into entertainment for children, the paquitas engendered problems in the way that the children coped with difference, insofar as the Caucasian kingdom never perceived the differences that define the place that hosted the much acclaimed “joyful world.” A Puritan race that defined the qualities of personal elegance could not possibly be open to difference – something that the artist, a young Japanese girl, perceived only after her letters sent to the “joyful world” were never responded to, in accordance with the promise.

Josué Mattos

Obras do artista