Participantes

Beto Magalhães, Cao Guimarães e Lucas Bambozzi

Brasil

Beto Magalhães (1964, Belo Horizonte, Brasil), Cao Guimarães (1965, Belo Horizonte, Brasil) e Lucas Bambozzi (1965, Matão/ São Paulo, Brasil)

Essa é a história do Brasil contada lá no fim do sem fim. Lá onde o nada deixa de ser ausência e passa a ser protagonista de histórias pessoais, produzindo necessariamente o efeito contraditório de resgate e perda. O documentário de longa-metragem intitulado O Fim do sem fim apresenta ao espectador imagens diretas de uma realidade pouco comum na contemporaneidade. Traz para mais perto, por meio de um registro artístico e histórico, o desaparecimento de ofícios e profissões no Brasil, tais como: benzedeiro, parteira, cordelista, garimpeiro, escrivão, relojoeiro, operador de elevador, produtora artesanal de candeeiro etc.
Com foco tanto no interior quanto nas capitais brasileiras, o filme de Cao Guimarães, Lucas Bambozzi e Beto Magalhães apresenta as transformações econômicas e culturais sofridas pelo país, sobretudo depois da massificação da tecnologia e, posteriormente, da abertura do Brasil para os ideais do Neoliberalismo. Com um tema concebido em tal escala, a opção pelo retrato acaba por produzir uma relação de singularidade desses ofícios, pois intensifica os mecanismos analógicos e o compromisso desses retratados em fazer do fim um eterno recomeço.
São perspectivas originadas da experiência e da intimidade com o outro, relações que representam um verdadeiro processo de formação da percepção ou da compreensão da vida. A abordagem deste documentário é a abertura para um passado que insiste em existir como presente. O fim do sem fim representa o povo por meio de um rosto, de uma mão, de um olho cansado, das convicções inconscientes, da cultura assimilada como memória, ou mesmo do valor que reveste os fins, estes mesmos que insistimos em manter no plural.

This is the story of Brazil told there at the end of the endless. There where nothingness stops being absent and begins to be a protagonist of personal histories, necessarily producing the contradictory effect of recovery and loss. The feature-length documentary entitled O Fim do sem fim [The end of the endless] presents to the spectator direct images of a reality that is not at all common in contemporaneity. It brings the viewer closer, through an artistic and historical record, to the disappearance of trades and professions in Brazil such as: the faith healer, the midwife, the author of cordel literature, the wildcat gold miner, the scrivener, the watchmaker, the elevator operator, the artisanal producer of oil lamps, etc.
With a focus on Brazil’s small towns and countryside as well as its large cities, the film by Cao Guimarães, Lucas Bambozzi and Beto Magalhães presents the economic and cultural transformations the country has suffered, especially after the intensive spread of technology followed by the opening of Brazil to the ideals of Neoliberalism. With such a wide-scope theme, the choice of using the portrait wound up producing a relation of singularity for these trades and professions, since it intensifies the analog mechanisms and the commitment of the people portrayed to turn the end into an eternal re-beginning.
These perspectives arise from experience and from intimacy with the other, relations that represent a true process for forming the perception or understanding of life. The approach of this documentary is to forge an opening to a past that insists on existing as a present. O fim do sem fim represents the people by way of a face, a hand, a tired eye, unconscious convictions, culture assimilated as memory, or even the value attaching to the ends, which we insist on maintaining in the plural.

Kamilla Nunes

Obras do artista