Caetano Dias
(1959, Feira de Santana / Salvador, Brasil)
A colonização é recontada por Caetano Dias de forma onírica. Carregadas de signos, suas narrativas são construídas de memória afetivas, coletivas ou individuais. Bicho Geográfico, filmado no Palácio da Aclamação – construção colonial, antiga residência de governantes do Estado da Bahia –, remonta à união de Diogo Álvares Corrêa (náufrago português) com a índia Catarina de Paraguaçu, o primeiro casal católico da colônia. Os buracos abertos pelo homem, suas ruínas, são observados pela mulher e seu cachorro (animal trazido pelos colonizadores) com melancolia. Abre caminhos à força, como um bicho geográfico que desenha mapas tortuosos na pele.
Em Delírios de Catarina, o passado colonial baiano baseado na extração do açúcar é recontado pela memória afetiva do próprio artista. Com traços africanos e mestiços, as cabeças de Dias, fundidas em açúcar, inquietam à primeira vista. Separadas do próprio corpo, pairam pelo espaço em estacas ou repousam em uma mesa colonial, tecendo um comentário à formação do homem brasileiro: da separação dolorosa da África à mestiçagem forçosa. Cúmplice da memória de um processo violento de colonização, o açúcar dilui (de forma perversa) seu passado na doçura do paladar.
Colonization is retold by Caetano Dias in an oneiric way. Charged with signs, his narratives are constructed from affective, collective or individual memory. Bicho Geográfico [Geographic Animal], filmed at the Palácio da Aclamação – a colonial construction, the old residence of the governors of the state of Bahia – refers to the marriage of Diogo Álvares Corrêa (a Portuguese shipwreck survivor) with the Indian woman Catarina de Paraguaçu, the first Catholic couple of the colony. The holes opened by the man, his ruins, are observed by the woman and her dog (an animal brought by the colonizers) with melancholy. He opens paths by force, like a bicho geográfico [cutaneous larva migrans] that draws twisting maps on the skin.
In Delírios de Catarina [Deliriums of Catarina], the Bahian colonial past based on the extraction of sugar is told by the artist’s own affective memory. With African and multiracial features, Dias’s heads, molded from sugar, make the observer feel uneasy at first sight. Separated from their bodies, they hover in the space on stakes or rest on a colonial table, weaving a commentary about the formation of the Brazilian people: spanning from the painful separation from Africa to forced racial mixing. A partner to the memory of a violent process of colonization, the sugar (perversely) dilutes its past in the sweetness of its taste.
Isabela Rjeille