Participantes

Carlos Castro

Colômbia

(1976, Bogotá, Colômbia)

Colocar uma coisa no lugar de outra é um recurso que atravessa a obra de Carlos Castro, artista capaz de juntar contrários até enxergar neles coincidências, simpatias, que abrem leques complexos de sentido.
Em Cosecha, um sabugo de milho está coberto por dentes. Num primeiro olhar, a peça parece de fato uma espiga, uma vez que os molares têm o mesmo tamanho dos grãos e, inclusive, a cor amarelada. Mas há algo de errado no objeto, de forma que o espectador se aproxima para, então, constatar que aquilo que come está no lugar do que é comido; ou, em outras palavras, que a fome trocou de lugar com o alimento.
Cruzada é uma caixa de música, onde as teclas de um xilofone são acionadas por cabos de facas; estoques feitos pelos presidiários e apreendidos pela polícia. O som produzido é uma marcha marcial, o que, sem tirar essas armas do presente, levam-nas a narrar o passado milenar de uma humanidade que não abre mão da guerra. Uma humanidade que não sabe bem para onde se dirige, questão essencial na obra de Castro, que leva uma pergunta latente pelo sentido, a bússola da história, tanto em sua versão darwiniana quanto na judaico-cristã. Outra das peças, Hijo de Dios – um esqueleto de macaco feito com ossos humanos – diz muito a esse respeito.

Putting one thing in place of another is a resource that pervades the work of Carlos Castro, an artist able to join opposites until perceiving coincidences in them, affinities that open complex spectrums of meaning.
In Cosecha [Harvest], a corncob is covered by teeth. At first glance, the piece looks like an ear of corn, since the molars are the same size as kernels, and yellow in color. But there is something wrong about the object; as the spectator comes closer, he sees that the thing which eats is in the place of what is eaten. Or, in other words, that hunger has taken the place of food.
Cruzada [Crusade] is a music box, where the keys of a xylophone are played by knife handles; crude knives made by prisoners and confiscated by the police. The sound produced is a military march, which, without taking these weapons out of the present, causes them to narrate the age-old past of a humanity that insists on waging war. A humanity that does not know where it is headed, an essential question in Castro’s work, whose meaning bears a latent question, the compass of history, both in its Darwinian version and its Judeo Christian one. Another of the pieces, Hijo de Dios [Son of God] – a monkey’s skeleton made from human bones – has much to say about this.

Julia Bonaventura

Obras do artista