Participantes

Jonas Arrabal

Brasil

(1984, Rio de Janeiro, Brasil)

Deus ex Machina, de Jonas Arrabal, encena o diálogo entre um sujeito e uma espécie de “oráculo” sobre “o tempo, a permanência, o desaparecimento e a ideia de representação — temas caros tanto para o teatro quanto para as artes visuais”, como se refere o artista.

Ser o próprio artista o narrador de Deus ex Machina é, em si, um aspecto digno de notar, em especial se levarmos em conta a tradição do teatro europeu, no qual o palco é o mundo, e a partir dele fala o sujeito. Mas esta justaposição, entre mundo e representação é, para Jonas Arrabal, precisamente aquilo que se procura friccionar.

O narrador de Deus ex Machina não é a figura onisciente dos acontecimentos do mundo, que aparece acima dos enredos triviais dos homens. É, antes de tudo, um “eu” sozinho no mundo, nostálgico entre os escombros de um regime de palavras e de imagens defuntas (o “regime de representação” de Jacques Rancière), que não procura reordenar o caos. Trava um solilóquio indagatório, de tom confessional monocórdico, no qual fala sobre um desejo de viver no corpo de outros personagens da ficção e do cinema, e de, por meio deles, imortalizar-se, num corpo plural de imagens, espaços e temporalidades. 

Diante de um oráculo de imagens vertiginosas, Jonas Arrabal nos oferece o seu “cinema privado”, fragmentos de diversos filmes, de diferentes épocas, mediante um processo de edição que, segundo a crítica Fernanda Lopes, aproxima-se muito da “lógica do escultor: selecionar, cortar, subtrair, colar, inverter”.