Participantes

Waléria Américo

Brasil

(1979, Fortaleza, Brasil)

A artista Waléria Américo se serve de gestos e de processos de escuta do outro para abrir frestas e espaços de negociação, nos quais a imagem passa a ser um ato, uma reverberação. Notemos que, em FALHA,há uma descontextualização e uma desfuncionalização dos objetos, que provoca o constante deslocamento da matéria e, como consequência, gera diversas composições em partituras. O seu trabalho, por ser concebido como um gesto dilatado, não possui lugares fixos de entrada e saída, nem começo e fim. O ato, o momento em que a pesquisa e todo o processo são apresentados ao público com o título de FALHA, não anula ou se opõe aos processos que ainda estão em reverberação.

Neste espaço de negociação entre a artista e a síntese na elaboração da imagem, entre a partitura e os músicos, a interpretação e o público, há não apenas falhas, mas também reinvenções. Quando o prato de bateria é perfurado com uma arma de fogo calibre 38, ele gera um ruído, assim como um vazio que, posteriormente, é grafado no pentagrama musical por meio dos orifícios do prato, resultando em uma partitura. As notas executadas em instrumentos de sopro são mantidas até o limite do esgotamento do ar, fato que torna esta obra desobediente. Ela não permite ser tocada no tempo em que foi concebida. O sopro é, portanto, na obra de Waléria Américo, a reinvenção do ruído, o deslocamento do tiro em nota.

 

Artist Waléria Américo resorts to gestures and processes of listening to the other in order to open gaps and spaces of negotiation, in which the image becomes an act, a reverberation. We note that, in FALHA [Fault] there is a decontextualization and a dysfunctionalization of the objects, which brings about the constant displacement of matter and, as a consequence, generates various compositions in musical scores. Her work, for being conceived as an expanded gesture, does not possess fixed places of entrance and exit, nor beginning and end. The act, the moment at which the research and the entire process are presented to the public with the title FALHA, does not annul or oppose the processes that are still reverberating.

In this space of negotiation between the artist and the synthesis in the elaboration of the image, between the musical score and the musicians, between the interpretation and the public, there are not only faults, but also reinventions. When the drum cymbal is pierced by a .38 caliber gun, it makes a noise, as well as a void which is later drawn on the musical staff through the orifices of the symbol, resulting in a musical score. The notes executed on wind instruments are maintained up to the limit of the breath’s total exhaustion, a fact that makes this work disobedient. It cannot be played in the time in which it was conceived. In Waléria Américo’s work, therefore, the breath is the reinvention of noise, the displacement of the gunshot into a note.